Estou em luto. Luto pelo sonho interrompido, pela vida interrompida no lugar que deveria dar chances dessa vida resplandecer: a escola.
Passei pelo período de graduação inteiro falando de bullying, conceituando e tentando convencer aos demais o quanto perigoso essa prática comum ( não natural, não apenas uma fase) pode ser. Apresentei a monografia, fui parar em um fórum de educação para discutir a questão.... e hoje, enlutada mais do que nunca, vejo que na cidade vizinha, bem ao meu lado, o bullying leva a vida de um adolescente.
Aqui no Brasil o bullying ainda é pouco discutido, pouco compreendido e pouco levado a sério. estudos apontam que, estamos em média, com 14 anos de atraso em relações a práticas anti-bullying. Mas, o que é bullying?
Nos meus estudos, conceituei essa prática horrenda como a mais cruel forma de tortura velada que uma pessoa pode sofrer, pelo simples fato de não ser perfeito. Lógico que, à fundo, o bullying é muito mais. É preconceito, exclusão, violência, invasão. Começa sob forma de "apelidinhos carinhosos" e brincadeira de criança. De repente, vira furto, ameaças, fofocas,escárnio, chutes, tapas e socos. Vira suícidio, e mesmo que alguns não concordem, vira assassinato... seja do corpo, seja da alma.
Estudei alguns casos para monografia, e vi o sofrimento de uma aluna acima do peso, vi nos seus olhos o quanto ser ela mesma lhe custava. O mesmo que acontecia com um menino com problemas de dicção, outro com dificuldades de aprendizagem, e por aí vai... A escola. lugar que deveria favorecer a aprendizagem e a cidadania, acaba por ser um local de exclusão e sofrimento, um local onde ser diferente e fugir dos padrões pré-estabelecidos por um grupo é crime e merece punição.
Ainda não acredito que, com tanta violência, as escolas ainda não enxerguem o bullying como violência e ainda não faça nada para impedir suas manifestações. É incrível ouvir de alguns profissionais, que isso é só uma fase e que não existe motivo para preocupações.
Muitas crianças pagam um preço alto: perdem a auto-estima, a vontade de aprender, a alegria de ter amigos. O Samuel pagou ainda mais caro. Por um corte de cabelo, perdeu a vida. Seus companheiros de classe o ameaçaram, e os que não ameaçaram tiveram medo de falar algo e se tornar a próxima vítima.
Durante a preparação da monografia, tive meus momentos de indagações... se tudo isso não era exagero meu, se tudo isso tinha mesmo tamanha dimensão. Hoje, sinto muito por ter mais alguém a quem dedicar a monografia. Sinto muito em te dar adeus Samuel.