Dizem que as vezes precisamos de um sacolejo para acordar algumas emoções adormecidas em nós. Eu precisei.
Passei por uma cirurgia há alguns dias e embora tenha passado boa parte da curta vida de 24 anos achando que já estava pronta para morte, que encararia a situação numa boa, que não sofreria. De certo modo, eu nem valorizava tanto assim o fato de estar viva.
Até que veio a cirurgia e eu tive medo de perde-la.
Tive medo de não ver mais a minha avó, de não brigar mais com minha mãe. Tive medo de nunca mais andar na praia, de nunca conhecer as pessoas que ainda não conheço pessoalmente.
Tive medo de deixar pra trás o sabor de uma pizza com amigos, de nunca mais ouvir a voz de nenhum deles. E por mais que passasse na mente a idéia de reviver tudo isso numa outra vida - ou não- eu sabia que não seria a mesma coisa. Não, eu não estava preparada para dar adeus. Eu não estou.
Foi um dia complicado, temido por mim. Fiquei extremamente sensível e abalada. Me surpreendi com o carinho de alguns, me magoei com a total ausência de outros e no final de tudo, abri os olhos e sobrevivi.
Talvez tenha sido este o sacolejo que eu necessitava para acordar em mim um amor mais intenso pelos meus planos, meus desejos, minha vida.
Seja o que for, seja como for estar aqui tem um sabor mais especial e no que se diz respeito a desejo é por aqui que eu ficarei por muito tempo, por que se pararmos para olhar detalhadamente meus anseios eu ainda tenho muita coisa pra fazer. E que assim seja.